Carta de repúdio à revista Veja
Essa eu não posso deixar de publicar no Toque Social. Não se trata de uma campanha publicitária, ou de alguma ação de marketing social, de guerrilha e nem mesmo de alguma peça de protesto. O verdadeiro tema deste post é a educação, valores humanos e os direitos da criança e adolescente, portanto cabe perfeitamente aqui.
Na edição de 20 de agosto de 2008 (infelizmente na data do meu aniversário), a revista Veja publicou uma matéria intitulada Você sabe o que estão ensinando a ele? Assinada por Mônica Weinberg e Camila Pereira, a reportagem foi baseada na qualidade do ensino brasileiro.
Nas 12 páginas encontra-se o seguinte trecho:
"Muitos professores brasileiros se encantam com personagens que em classe mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiro argentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações positivas, 14% de neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização. Entre os professores ouvidos na pesquisa, Freire goleia o físico teórico alemão Albert Einstein, talvez o maior gênio da história da humanidade. Paulo Freire 29 x 6 Einstein. Só isso já seria evidência suficiente de que se está diante de uma distorção gigantesca das prioridades educacionais dos senhores docentes, de uma deformação no espaço-tempo tão poderosa, que talvez ajude a explicar o fato de eles viverem no passado".
Em resposta, Nita (Ana Maria Araújo Freire), viúva de Paulo Freire, escreveu a seguinte carta de repúdio à Veja:
"Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE -- e um dos maiores de toda a história da humanidade --, quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas , camufladamente, age em nome do reacionarismo desta. Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoar pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo, apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas. A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmente com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética, certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista. Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que, certamente para se sentirem e serem parceiras do “filósofo” e aceitas pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade brasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável, elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais pobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamos conseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário. Superação realizada não só pela política federal de extinção da pobreza, mas , sobretudo pelo trabalho de meu marido – na qual esta política de distribuição da renda se baseou - que demonstrou ao mundo que todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela. Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato humanista no nefasto período da Ditadura Militar. Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu “Norte” e “Bíblia”, esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorada com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive! São Paulo, 11 de setembro de 2008 Ana Maria Araújo Freire".
Eu já disse aqui e repito, tenho medo das grandes empresas, coorporações estas que possuem um grande domínio sobre a comunicação e com isso condicionam todos a pensarem o que eles querem. Se a educação vai mal no nosso país, eu tenho certeza de que grande parte da culpa vem destes meios.
Fica este post para reflexão e discussão.
Para você que gostou ou detestou este post, por favor, Comente.
Fonte: Vi o Mundo
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3 comentários:
fala Jr!
cada dia mais penso em ler menos jornal, menos revista, ver menos noticiario .... talvez a internet seja a salvação... os blogs !!
parabens pelo blog!
abs!!!
A matéria da Veja é um bom exemplo que o ensino precisa ensinar as pessoas a lidarem com todo o simulacro que envolve todos os meios de comunicação.
Acho que um dia aguém acaba pondo no currículo sua bagaem de mídia:
"Fui mediado na infância pela Globo principalmente. Tive três anos de TV a cabo e atualmente só escuto camisinha musical."
Pois é Danilo...tb acredito muitos nos blogs, alias, já muitos já levam as informaçoes de blogs a sério. É preciso saber filtrar, porque há de tudo.
E Pesseba, boa sacada cara...acho que vou montar um currículo nesses moldes hehehehe...entraria muita mídia influenciadora.
Abraço pra vocês e obrigado pela visita.
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